terça-feira, dezembro 23, 2008

Séries!

Nostalgia...
Uma pessoa vê muita coisa, televisivamente falando, ao longo da vida.
Quantidades industriais de esterco mal cheiroso eram-nos forçadas diariamente através do vidrinho (não havia cá plasmas ou lcd's) mágico, e uma pessoa via, porque apenas eram disponibilizados 4 canais (mais os espanhóis, mas era tudo dobrado e só tinha piada ver algumas coisas, nomeadamente o dragon ball...quantas vezes disse "ondaaaa vitaaalll...yaaaaa!!!" ao longo da minha infância?). Séries como "Macgyver", "Esquadrão classe A - Soldados da Fortuna" e "O justiceiro", só para referir algumas, fazem agora parte do nosso imaginário que mais estimamos. Parte de nós.
Crescemos com elas e na altura tudo aquilo fazia sentido, era real! Existia um carro falante do outro lado do oceano que combatia o mal e chegou a ter um igualzinho a ele que combatia o bem, o senhor Richard Dean Anderson tinha capacidades para, apenas com uma caixa de fósforos, um elástico e uma palhinha cortada ao meio fazer uma moto serra que ia acabar com a fome num pequeno País de África, um grupo de ex-combatentes do Vietname conduzia uma carrinha preta com uma risca vermelha (como as dos ciganos, mas com uma pinta do caralho) e realizavam as missões "impossíveis" que mais ninguém conseguia.
Estas séries, transmitidas na TV, sem internet para fazer downloads e sem DVD's especiais com as temporadas completas + extras, eram acompanhadas religiosamente pelo fiel espectador, fã ou ocasional transeunte televisivo. Para os que já tinham VHS, caso não se estivesse em casa à altura da transmissão, era programar-se o video para gravar de X a Y hora, correndo o risco de falhar ou o inicio ou o fim, consoante a pontualidade da estação televisiva. No dia pós-transmissão, tinha-se o hábito de discutir o episódio com os amigos, partilhar opiniões sobre o rumo da história e insultar e/ou elogiar os personagens, consoante a situação (e, para alguns, consoante o video ter comido a fita ou não).
A internet deitou por terra esta "mística" aliada à transmissão de uma série. "Dá a que horas?" "Caga, depois saca-se"..

Confesso que sou um fervoroso consumidor de "chupanços" da internet, fazendo downloads de filmes e séries (a maior parte não vejo, para grande pena minha. Demora-se 13 segundos entre fazer a pesquisa e carregar no "download" e ver um filme ronda os 100 minutos) e sou em tudo pró-download ilegal, antes de me chamarem coninhas. Só a oferta que trouxe...e desta vez nem estou a falar do porno!
Mas, tenho saudades de poder discutir uma série "em grupo". Normalmente, discuto acerca das séries que vislumbro com uma ou duas pessoas (no máximo) que, ou já viram a série toda antes de mim, ou ainda vão muito atrasadas. Não há aquela partilha de ignorância sobre o que se vai passar a seguir, não há o discutir sobre o "epa, de certeza que vai acontecer isto" ou "cá para mim, aquele filha da puta vai morrer no próximo episódio"...

Isto tudo para quê?
Pergunta o fiel leitor já com uma lágrima nostálgica a escorrer pela face esquerda..

Para falar de uma série que, mais que recomendo, obrigo (!) todos os que me visitam a acompanhar, seja sacando ou vendo na tv (não me perguntem se, e onde é transmitida, não faço a mínima ideia). Estou a falar do triunfante regresso de David Duchovny ao pequeno ecrã, depois de longa ausência, pautada com algumas participações esporádicas em séries merdosas.




CALIFORNICATION

Série que terminou a 2ª temporada dia 14 do corrente mês e que se arrisca a figurar no top, lá ao pé de Seinfeld e de X-files.
A história é relativamente simples. Um escritor de meia idade com um one hit wonder convertido em filme, a sofrer um bloqueio de escritor (writer's block tem tão mais nível) para o seu próximo livro, separado da ex-companheira, mas com uma filha fruto dessa relação, facto que não permite o total distanciamente do "verdadeiro amor".
David Duchovny faz um papel do caralhÃO, superior a qualquer papel que fez até agora (melhor que em ficheiros secretos ó labrego? pergunta o leitor. Sim! replico.), os argumentos são algo fora do normal, sofisticados, sexuais, cómicos, românticos, sarcásticos, dramáticos, sexuais (sei que repeti).
Não é uma série que se centra apenas num personagem e caga de alto para os restantes, a todos são atribuídos papeis de destaque, com mais ou menos relevância para a história.
Os diálogos são algo de extraordinário, especialmente os de Hank Moody (Duchovny), obviamente. Viciantes, de não conseguir desviar o olhar com receio de perder uns segundos que seja. Hank Moody tem a capacidade de, por mais enterrado na merda que esteja, conseguir arranjar maneira de lhe despejarem um camião cheio de bosta fresquinha de gado mesmo em cima da cabeça.
E chamo aqui a atenção, quando digo que os argumentos são sexuais. Não estamos na presença de brejeirices ao nível de anedotas do fernando rocha e de qualquer um que vá ao levanta-te e ri, são argumentos inteligentes, frescos, dinâmicos, como há muito não se via numa série e que provocam aquele vício em ver só mais um episódio.
São perto de 30 minutos em que, no meu caso, vivo o Hank Moody que há em mim, com a certeza, porém, que na vida real, todas as gajas boas que conheço não me querem levar para casa para me saltar à espinha. É o único defeito, transportar-me para esse mundo...

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