segunda-feira, dezembro 08, 2008

Tudo isto é triste, tudo isto é...qualquer coisa não muito satisfatória e a roçar o vomitavel...





Eis-me chegado de mais um filme Português acabadinho de estrear nas salas de cinema, desta vez, espante-se o curioso leitor, falado em...isso mesmo, Português de Portugal (ainda não vi o Arte de Roubar, o tal filme Tuga com título Português e todo ele falado em Inglês Estado-Unidense, Inglês esse que, só pelo curto trailer, reveste-se de uma enorme capacidade de rivalizar com o ocasional turista Japonês de visita ao nosso País. Outra coisa engraçada deste arte de roubar é a óbvia e instantânea comparação com qualquer coisa já previamente idealizada por Guy Ritchie. E atenção, esta apreciação é apenas e só com a visualização do trailer em conta! Ainda espero ver esta pérola um dia), talvez para inovar um pouco o panorama cinematográfico nacional. E de que maneira se pode continuar a inovar? Bem, através da sonoplastia deste filme não será certamente. Aparentemente todos os actores possuem um microfone alojado nas cordas vocais e a voz que emitem é do mais puro e irrealista que pode existir no cinema "profissional", nem tentando disfarçar a total gravação em estúdio. A sincronização com a parte visual pode ser tudo, menos sincronizada. Para além disso, todo o som de background é rídiculo e aparentemente terá sido feito numa cave, com o auxílio de alguns tachos, panelas e utensílios variados da loja do euro e meio. Até porque o filme se passa maioritariamente nos anos 50 e nessa altura não havia grandes coisas a fazer barulhos....e, calhando, a haver mais que a ausência total de ruído de fundo normal numa cena de rua em que ocorre um diálogo, só iria servir para distrair...

Pois bem, Amália, filme-homenagem à deusa do Fado, apresentado como uma biografia ficcionada da artista, custou cerca de três milhões de euros, e conta no elenco com mais de 40 actores e 1.300 figurantes. Vai chegar a 66 salas nacionais e terá distribuição mundial em cerca de 20 países, o que o torna a maior estreia de um filme Português. O realizador é Carlos Coelho da Silva, o mesmo de "O Crime do Padre Amaro", e confesso que até senti falta da Soraia Chaves neste filme, ela que começa a tornar-se um Will Smith cá da praça, ou seja, garantia de €€€, desde que haja mamaçal desnudo e a badalar à bruta.
Vamos voltar ao filme que só de falar da Soraiazinha fico logo desorientado e cheio de dores no saco escrotal.

Para uma sinopse do filme visitem o site oficial (www.amaliathemovie.com/pt). Eis então algumas coisas que me causaram desconforto abdomino-pélvico:

Amália é retratada como uma esquizofrénico-ninfomaníaco-psicótica que sofre de alucinações desde tenra idade (não explicam, no entanto, se pode ou não haver ali abuso sexual por parte do avô. O que é certo é que na cena inicial, em pequena, foge a sete pés quando o pai entra para o comboio com a irmã e fica apenas com o sénior. Uma reacção destas hoje em dia levantaria suspeitas, mas isso pode ser de mim que acho engraçado ver duas girafas a praticar o coito enquanto penso nestas coisas).

A nível de trabalho de câmara temos um bom desempenho, quase ao nível dos Malucos do Riso ou, quiçá, do Preço certo em €uros...recorrer ao "andar a filmar à volta da personagem" não é original, apenas revelador de preguiça em usar várias câmaras para planos diferentes. O director parece que ficou congelado em 1990 e há episódios do Ligar para ganhar mais interessantes a nível estético, e não é por estarem lá os decotes das meninas.

Sonoplastia tive de referir logo na introdução deste post, tal não é o cheiro a merda que emana e se entranha á medida que o filme decorre, e duas horas e 7 minutos de merda auditiva custam a digerir.

A participação de Ricardo Carriço é o ponto alto do filme. Interpreta César Seabra, a principal relação amorosa da vida de Amália. Após todos os deslizes amorosos e com um medo crescente da solidão, Amália aceita casar-se, via telefone, com o engenheiro mecânico, a residir no Rio de Janeiro. E porque é este o ponto alto do filme? Pergunta o já irritado com a extensão do texto leitor?
Apenas e só pelo dialecto com que Carriço se apresenta, uma mistura de Português primitivo de Cabeços de Baixo com Brasileiro selvagem, ou seja, ficamos mesmo à espera que, a qualquer momento, as próximas palavras a ser emitidas sejam algo como:
"vô sácániá beim legáu ná sua bunda" ou um "pegá lévi pô, fódji gôstoso sua búcêta"
Sim, é assim tão bom...

Para concluir, tratando-se de um biografia, com distribuição para mais de 20 Países, cujo principal objectivo seria mostrar a vida da fadista, ascensão e "queda", podiam, sinceramente, ter optado por algo melhor, mais ambicioso, mais fiel à artista (a família já veio afirmar que o filme investe repetidamente em ficção em detrimento da realidade) e não uma obra vincadamente ficcionada, muitas vezes sem nexo aparente, sem ligação entre cenas/história, que, sinceramente, deixa uma imagem algo negativa da artista. Isto a mim, que conheço muito pouco da história da mesma e até fui esperançado de "aprender" alguma coisa...real.
127 minutos de filme pode parecer muito, mas 22 fados ao longo do filme ocupam muito tempo...



Em nota de curiosidade, Amália tem um fado intitulado "Estranha forma de vida". Fica o esclarecimento que o mesmo não serviu como inspiração para o título deste blog, apesar da inegavel qualidade do mesmo:

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

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