José visitou a Cuba “livre” de Fidel durante o passado fim de Outubro/início de Novembro, e, por falta de tempo e/ou paciência ainda não se tinha debruçado sobre o assunto e relatado as ocorrências a vocês, os milhares que me acompanham através da plataforma online. Assim, de modo mais ou menos resumido, deixo-vos com o fillet mignon da viagem, esperançado que o vosso conhecimento acerca desta Ilha das Caraíbas seja em muito aumentado…ou não.
Primeiro, e auxiliando-me nas wikipedias e essas merdas todas, um resumozito sobre Cuba:
- Colónia Espanhola (durante 4 séculos);
- Estados Unidos “ocuparam” a ilha durante 4 anos;
- 1902, independência Cubana, com intervenção directa dos EUA em todos os assuntos políticos e militares (Emenda Platt), assim foi durante 58 anos;
- Fulgência Batista, ditador entre 1933 e 1959 (apoiado pelos EUA, que, em contrapartida, controlavam os negócios na ilha), deposto por Fidel Castro em 1959, exilou-se em Portugal (Estoril e Ilha da Madeira). Cuba consegue independência.
Adenda histórica: Cuba acusa os EUA de limitar os direitos humanos na ilha, através de todos os esforços anti-Cuba (comércio do açúcar, petróleo, etc). Durante anos os EUA controlavam e exploravam as plantações de Açúcar na ilha, terrenos que foram progressivamente desapropriados pelos Cubanos, de volta aos locais. EUA inicialmente deixaram praticamente de importar açúcar de Cuba (700.000 toneladas) e posteriormente iniciaram um “bloqueio” contra a Ilha (onde, por exemplo, um País não pode exportar para os EUA por conter algum produto cubano), este embargo, desde 1962 até aos dias de hoje, terá causado um prejuízo superior a 89 biliões de dólares. Tendo já sido discutido e votado pela ONU, mas sem resolução aparente. Daí a ilha depender, em grande maioria, do turismo para a sua subsistência. Durante a estadia, mais do que um guia informou disso mesmo, muitas refinarias de açúcar fecharam ao longo dos anos e é através do turismo…dos 270000 em 1989, Cuba viu-se explorada por 2.2 milhões em 2006.
Atenção agora, texto grande:
Havana é uma cidade de, à semelhança de muitos destinos turísticos, muitos contrastes. Apesar da sua inegável beleza arquitectónica, caracteriza-se também pela miséria alheia. Do quarto no 13º andar do Hotel tinha vista privilegiada para alguma dessa miséria, dos prédios decadentes, quase que saídos duma zona de guerra, dos pedintes que interpelam turistas e locais em busca de alguns “pesos” para comer. “Para comer?” Perguntam vocês, com cara de parvos. ”Para comer”, respondo eu, com a mania que sei muito. “Então mas Cuba não é o País que tem 85% de licenciados e só 15% é que se pode definir como analfabeto, enquadrado na pobreza?” Indagam vocês já com um ar nitidamente cagão. “Até pode ser que sim, mas esses são dados que é o próprio governo fornece e se só há 15% de analfabetismo e pobreza naquele País devo-me ter cruzado com todos os 15%...duas vezes”.
É com um salário de 8 euros e o “direito” a uma alimentação racionada, controlada com um cartão que vão trocando à medida das necessidades que os Cubanos se regem, pelo menos grande, grande parte. E o que fazer quando não é suficiente? Pedir, muito. Seja na rua ou “indoors”. Chegou-se ao cúmulo de, ao visitar o Capitólio, e pagar a respectiva entrada, deambulando por uma das salas iniciais, somos abordados por uma senhora, com farda própria, que nos informa relativamente à sala onde estamos, onde podemos e não podemos ir e se oferece gentilmente para nos tirar uma foto. E é depois de bater a chapa que são arremessados daqueles lábios, como tentáculos maquiavélicos mirados na minha carteira, as seguintes palavras: “E agora se me puderem auxiliar, tenho três filhos em casa..” e eu…”FODA-SE!!! 3??? Tão mas não és capaz de ter as pernas fechadas e agora eu é que tenho de pagar a escola aos gaiatos??? Dá aí uns pontos a unir as bordas da cona que resolves isso, ou então leva sempre no cú que deixas de engravidar!!!!!!” depois a voz na minha cabeça calou-se e lá dei um “peso” à senhora, com o sorriso mais falso dos últimos 15 ou 20 minutos.
Outra, nas casa de banho, em locais que também se pagou à entrada. Quando entro não se vê vivalma, ainda estou a acabar de sacudir o Feliciano e já tenho um gajo à porta com uma toalha à minha espera…e um secador ao lado!!!! Fiquei depois a saber que, numa estratégia extraordinária por parte do governo dos Castros, os Cubanos que trabalham nestes sítios descontam para a “Segurança Social” sobre as gorjas que recebem….fantástico? Ou preocupante?
Bem, como está a ficar tarde, vamos descortinar um pouco sobre as partes mais fofinhas da viagem:
Primeiro que tudo, será possível que os cubanos nunca tenham ouvido falar de Piaçabas? Nem um nas casas de banho dos hoteis! E, para variar um pouco nestas questões de viagens, voltei a entupir a sanita no cocó inaugural, a tradição foi respeitada. Mas o melhor ainda estava para vir no que toca a estas aventuras Gastro-intestinais…mais à frente voltamos a este assunto.
Toda e qualquer discoteca é fachada para turismo sexual. Ponto. Seja na discoteca do 25º andar do hotel xpto (com acompanhantes de luxo) ou na casa da música (com putas balseiras saídas de um mau episódio do Cops), a ordem do dia é sacar dinheiro aos turistas. Nessa casa da música, tivemos o privilégio de assistir a um concerto ao vivo de música tipicamente cubana, ritmos calientes e essas merdas todas. O problema aqui foi que não consegui apreciar em perfeitas condições o espectáculo pois a minha mente estava confusa. Estive sempre à espera que a qualquer momento os artistas gritassem “Olhó Bóquessér frequesa, é a dois e meio que o cigano tá maluque!”, tal não era o aspecto de feirante que aqueles meninos ostentavam (a t-shirt justa, cor de rosa, com lantejoulas, o casaco de ganga (sem mangas), o cinto com uma fivela gigante, o sapatinho. Tudo do mais balseiro que se pode encontrar em qualquer bazar de qualidade).
Ainda em Havana, como qualquer turista que se preze, fomos empurrados para uma visita pela cidade, em que na primeira parte tivemos o privilégio de…andar num autocarro a manhã inteira. Quando estava quase a espetar o garfo do almoço nos olhos por ser tão idiota e gastar dinheiro naquele chupa-Euros, o guia informa que a 2ª parte da viagem será feita a pé. Até aí tudo bem, andámos e andámos, e depois andámos mais um bocado. No fim, em género de flash interview, o guia respondeu a algumas perguntas, despediu-se cordialmente e informou que o nosso hotel fica 5 km “naquela direcção”, dando-nos 3 opções, a pé, carro ou táxi. Como qualquer grupo inteligente que pensa “tão mas este cabrão não nos leva ao hotel agora??” e cansados de palmilhar Havana, escolhemos a opção “a pé”. Percorremos o calçadão lá da zona (Malecón) e é durante o trajecto que se constata um padrão a nível das habitações, algo como: restaurado e brevemente hotel-zona de guerra-zona de guerra-zona de guerra-zona de guerra-zona de guerra-zona de guerra-restaurado e brevemente hotel- zona de guerra- zona de guerra- zona de guerra- zona de guerra- zona de guerra. Curioso, perguntei no dia seguinte a um taxista o porquê, qual o critério para recuperar x e não recuperar y imediatamente contíguo. Existe então um senhor de seu nome Eusébio Leal, possuindo o cargo de Historiador de Havana, chamado pelos habitantes “Dono de Habana Vieja”. O que este senhor tem o poder de decidir, com total apoio do governo (obviamente), é a evacuação de um prédio (mesmo que habitado por várias famílias durante gerações) para depois restaurar, sendo as famílias expulsas e colocadas em alojamento temporário que depressa se torna definitivo e o prédio, sendo propriedade do estado, ao dono volta. E atenção, os prédios ao longo do Malecón são prédios imponentes, ornamentados, estilo Americano anos 50. O cheiro a tinta fresca é facilmente contraposto às varandas fechadas a tijolo e cimento para daí resultar mais uma divisão para uma família numerosa que se amontoa em poucos m2. Os vidros ainda com o adesivo em forma de “X” que permitem descortinar algo novo não espelham a realidade a escassos metros. Esta recuperação limita-se apenas a estas artérias principais, porque ao adensar o passeio e aventurar mais um pouco chegamos a perguntar-nos se estaremos no Iraque em altura de bombardeio intenso…
Em Varadero, nada de visitas e/ou excursões, limitámo-nos a praia e descanso, num hotel de luxo. E digo luxo porque só se pode falar de luxo quando, na casa de banho, justamente ao lado do trono do cocó, temos um telefone que nos possibilita comunicar com os restantes quartos. Luxo é estar a cagar e ligar para a recepção a relatar a experiência. E útil que foi este telefone, uma vez que grande parte do meu tempo foi passado no trono cerâmico…pois é, o sistema gastro-intestinal finalmente falhou e é com pesar e algum orgulho que digo que facilmente poderia rivalizar com uma torneira de alta pressão…mas em vez de água, sairia uma espécie de merda muito líquida, de tal modo que o chocolate quente das máquinas tinha mais consistência que o produto por mim evacuado…foram dias de autêntico penar meus amigos e amigas, e, uma vez que tinhamos um free pass para comida e bebida, uma simples pulseira de plástico que separa o comum dos mortais dum bacanal alimentar em que só precisamos de ir buscar o prato e encher de “cagulo” (finalmente utilizo esta expressão), decidi utilizar uma técnica que, vá lá, resultou em 87%. Ao pequeno-almoço, torradinhas e cházinho, ao almoço, frango e pouco mais. Ao jantar, meus amigos, primeiro que tudo, esvaziar o conteúdo gástrico, depois, comer tudo o que se conseguir até se dar o sinal cerebral que está um camião cisterna cheio de merda às bordas do cú prestes a verter, depois correr (dentro das capacidades na altura, uma espécie de marcha para-olímpica) até à habitação e deixar todos os demónios sair, aproveitando para utilizar o telefone que se encontra ao lado do trono para comunicar aos nossos parceiros de viagem a consistência, ou ausência dela.
Se ainda persistir a fome e se forem possuidores da coragem e espírito de sacrifício necessários, ingerir Ultra-Levur E Imodium e voltar à carga ao buffet. Importante: Lavar as mãos antes, mas não beber água da torneira…parece que faz diarreia…