sábado, outubro 01, 2005

Primeiros dias...

Deixo agora online o diário que tenho dedilhado todos os dias no computador portátil sem internet que me acompanha, visto ter agora oportunidade para aceder à internet através da casa de uma colega, aqui ficam os primeiros dias:

Dia 1

Eis chegado ao fim o primeiro dia em Setúbal e, tendo em conta que o estágio propriamente dito só se inicia amanhã, opto por informar os leitores que me acompanham através da Internet acerca da casa na qual eu e outras duas colegas de turma nos encontramos actualmente hospedados durante este mês e meio.
Tudo nela me assusta, e devo explicar à partida que não se trata de uma casa normal de aluguer, trata-se sim de uma casa de férias de um casal idoso, emigrante em França. E como viemos aqui parar, pergunta o leitor mais exigente? Negócios de uma colega natural desta cidade, amigos de amigos, etc, etc.
Pois bem, Jesus está em todo o lado, dado adquirido pela doutrina da igreja católica romana, ensinado ano após ano, desde a crucificação e suposta ressurreição de Jesus. Todos o sabemos, especialmente aquelas velhotas que se queixam de todas e mais algumas doenças mas lá conseguem encontrar forças para se levantar por volta das 6:30 da manhã para ao bater do sino das 7 estarem preparadas para ouvir o sermão. E isto a um domingo!!
Mas nesta casa talvez tenham levado demasiado à letra o conceito de estar em todo o lado, literalmente…
Para onde quer que se olhe, lá está ele, quer seja em quadro, bordado ou em estátua, para além do famoso crucifixo, como não podia deixar de ser.
Não é só Jesus que povoa as paredes desta casa, bordados vários, desde animais a paisagens, sendo o ex-libris um bordado sobre a ombreira da casa de banho representando nada mais nada menos que esse monstro da música nacional Francesa, Claude Francois….
À parte tudo isto, informo também que, a partir destes aposentos até ao famoso bairro da bela vista são uns longos 5 minutos a pé (!), o que é, desde já, genial!



Dia 2

A alvorada soou por volta das 9 da matina, aproximava-se a hora D, D de estágio.
O nervosismo era tremendo, os picos de adrenalina eram equiparáveis ao esfíncter anal do Castelo Branco, por outras palavras…oscilantes. Tudo derivado do trauma que já desenvolvi num outro post, mais antigo, referente a me sentir injustiçado ao máximo no último estágio que efectuei…quem me conhece sabe quem culpo e quem sabe melhor o assunto sabe o que ocorreu verdadeiramente…
Chegamos ao hospital de São Bernardo por volta das 10 da manhã, dirigimo-nos ao 5º piso, o enfermeiro chefe não estava, esperámos, tensão a aumentar, chegou, falou, acalmou e convenceu, à primeira vista parece ser um profissional extremamente dedicado e a nível pessoal conseguiu pôr-nos à vontade.
Conhecemos o serviço e logo soubemos de dois casos mais sérios, um jovem de 15 anos com suspeita de HIV e um bebé de 5 meses com suspeita de maus-tratos. E neste caso de maus-tratos, a confirmarem-se, como esperam que trate os pais desta criança quando o que me apetece é fazer a eles o que fizeram a um BEBÉ sem possibilidade de se defender, mas a multiplicar por um nº nada generoso? Penso que será esta a minha maior dificuldade relativa à pediatria, não as técnicas ou as patologias, isso estuda-se. Grande parte da minha verdadeira aprendizagem será desenvolvida no relacionamento com este tipo de monstros, à falta de palavras piores.
Sendo o enfermeiro chefe do serviço não só de pediatria mas também de neonatologia, visitámos este serviço onde encontrámos “coisinhas pequeninas” apenas semelhantes aos famosos “nenucos”, mas aqui em versão mini.


Dia 3
Ontem li até às 3 da matina as partes essenciais da matéria de pediatria, hoje acordei mais cedo para ler a parte referente às patologias. Chegámos ao serviço e fardámo-nos, e a partir daí esperámos e sentimo-nos ignorados por toda a gente enquanto não chegava a passagem de turno.



Dia 4

Hoje fiz manhã no serviço de neonatologia, destinado aos recém-nascidos com problemas após o parto, quer sejam problemas respiratórios, partos prematuros, filhos de toxicodependentes ou casos de infecções no parto.
Embalei e acalmei dos bebés com HIV+ o que me revoltou severamente, pois tratam-se de crianças que, ao contrário dos pais, não tiveram hipótese de escolha acerca do seu futuro, ficando este praticamente selado a partir do momento em que são retirados do ventre que os “protegia” do mundo exterior.
Nascem condenados, é injusto, entristece e revolta…


Mais está para vir...

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